Onde não puderem te amar, não te demores.
Silvia Costa
Quando eu era bem pequena, tive a sorte de ganhar um irmãozinho, o Bruno, amor de vidas, de todas as realidades. O Bruno ia chegando e as pessoas iam mostrando os dentes, junto com os braços, com o coração… e tudo junto formava um sorriso animado pra ele. Ele era um bebê ainda, um tiquinho de nada, quando ia à frente de toda a igreja cantar as musiquinhas dele, e passava de colo em colo, e falava com todo mundo.
Um dia, ensaiamos uma música. Ele foi na frente, eu atrás. Começou a canção. O combinado era: ele cantava primeiro, eu vinha depois. Mas ele não parou de cantar e eu não cantei. Fiquei muda olhando pra ele, com o microfone na mão, sem entender nada. Que vergonha!
As pessoas aplaudiram, mas na minha percepção todas as palmas foram todas pra ele. Minha mãe disse que eu devia ter cantado junto, mas pra mim, combinado era combinado. Na verdade, nem que ele tivesse cantado só a parte dele. Eu estava tão tímida e apavorada que a voz não sairia!
Meu irmão sorria despreocupado. Ele brilhava ainda mais sob um holofote… E eu tinha muita inveja dele porque eu não conseguia ser assim.
Depois de muito tempo crescida, eu entendi que o que eu invejava no Bruno não era quem ele era, mas o que ele tinha: amor declarado e público.
Sinceramente, eu gostaria de poder dizer que isso, na verdade, não é muito importante, é uma besteira, coisa de gente metida, que dá pra passarmos a vida sem sermos notados, mas seria muita mentira. Eu sei que é mentira, no fundo, todos sabemos.
A verdade é que queremos ser objeto de amor, sentir-nos objeto de preocupação. Ter nossa presença notada, nosso nome, registrado, nossas opiniões, ouvidas, nossos fracassos, tratados com indulgência e nossas necessidades, atendidas. E sabemos, por experiência social, que assim, prosperamos. Por isso, me parece que estamos tapando o sol com a peneira quando tentamos acreditar que a prosperidade tem mais a ver com competição do que com apoio e colaboração.
O que precisamos, afinal, é buscar pertencimento onde somos bem vindos. Procurar por pessoas que nos compreendam e se interessem verdadeiramente por quem somos. Trabalhar com algo que faça nossos dons brilharem. Mostrar-nos e deixar-nos conhecer pelos outros. Confessar o quanto queremos e precisamos desse amor e permitir-nos recebê-lo. E talvez a gente descubra que, na verdade, não queria ser famoso, nem ter uma personalidade diferente...
Puts, que pariu vc me descreveu total, com o nascimento da minha irmã.
ótima reflexão, show !!
Amiga querida, vc é maravilhosa 👏👏👏Texto maravilhoso..... ótima reflexão 🤔🤔🤔🤔🤔
Adoreiiii,texto maravilhoso 👏👏👏
Parte do penúltimo parágrafo faz referência ao livro "Desejo de Status" do Alain de Botton ;)